Em pleno sábado (19), na vigência do isolamento social para evitar a propagação do coronavírus (covid-19), você está lendo sobre inteligência artificial, aquela matéria que precisa de concentração para o mestrado da Unicamp, e você ouve o som de um piano ao longe
Foi assim que aconteceu com o professor de matemática e estudante Rafael Gama Cavallari, 35 anos, morador do condomínio Azaleia, Nova Cidade Jardim, em Jundiaí.
A curiosidade levou o professor até a janela. E conferiu uma apresentação musical na área comum do condomínio.
“De início achei que era algum vizinho colocando música alta. Mas aí vieram as palmas. Confesso que foi muito legal ver as pessoas interagindo das janelas dos prédios. Deixou o clima mais leve. Muitos aqui são pessoas simples. Alguns são autônomos e a grande maioria está com receio de como será o futuro. Então você ver as pessoas felizes te deixa feliz também”, comenta.
Cavallari, que está trabalhando em home office com aulas de EAD (Ensino a Distância), da instituição em que atua, disse não lembrar de ter visto pessoas comemorarem algo nos últimos meses, como nessa apresentação. “Acredito que devia entre 50, 60 moradores assistindo”, pontuou.
O músico, que harmonizou o sábado no condomínio, Azaleia foi o maestro João Batista Ferreira Alves, de 63 anos. Casado, três filhos, seis netos e morador da região do Engordadouro, levou música para quem há muitas semanas está restrito em seus lares em cumprimento à orientação de isolamento social.
Segundo Alves, este trabalho (a pedido de uma construtora da cidade), em levar a música para condomínio, surgiu agora e parece não haver similar no mundo com a dinâmica que ele fez. A ideia partiu dele como uma saída da falta de trabalho como músico.
Autodidata, o maestro diz ter paixão pela música erudita e chegou a lecionar em conservatórios. “Trabalho profissionalmente desde 1982, como pianista de hotéis, restaurantes e eventos corporativos. Como maestro dediquei-me ao magistério, em instituições de ensino, formando orquestras e ensinando jovens. Atualmente, sou maestro de corais, como o do UDEMO (Sindicato dos Diretores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) e também na regência do Coral da Unimed Sorocaba”, comentou.
Ao piano, devido aos eventos corporativos, Alves tem um repertório que vai do popular aos clássicos do pop, rock, MPB e jazz. “Gosto muito de tocar stands e jazz tradicional. Gostaria de ter tempo para tocar erudito, que gosto muito”, completa.
Além de músico, o maestro lecionou por quase 40 anos. Além da música, foi professor de história, filosofia e outras matérias de cunho religioso. “Lecionei em seminários, na formação de padres. Ainda faço algumas atividades nesse sentido: pregar, retiros, palestras, entre outras atividades, além de também, ter livros publicados”, finalizou.